Coprolalia, a compulsão de dizer palavrões e gracejos sexuais

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“(…)De tudo isto resta-nos uma grande lição. Sexo simplesmente como forma de prazer ou simplesmente como forma de reprodução dá uma ideia incompleta da sexualidade e não satisfaz o homem. Ele é as duas coisas e mais ainda, ele é acima de tudo uma forma de comunicação.” (Cavalcanti, Mabel)

Se sexo é uma das mais contundentes formas da comunicação humana (1), e que é neste ato de comunicação que se fusionam Eros (amor carnal, erótico) e Ágape (amor puro, pra reprodução da espécie), então, o recurso sensual das palavras sussurradas pelos amantes envolvidos no ato amoroso, é incontestavelmente tão poderoso quanto as carícias.

Palavras sensualizadas e sexualizadas, pois, fazem parte de uma estratégia de sedução, e têm significância própria tão-somente para aquele/a que as pronuncia e aquele/a que apreciam ouvi-las, aumentando a excitação do momento. Palavras e frases sensualizadas e sexualizadas comprovam o grau de intimidade e cumplicidade de um casal, de um par erótico, independentemente se são palavras picantes, doces palavrinhas ou palavrões.

Essa é uma forma de comunicação que só é prazerosa se os envolvidos estiverem de comum acordo em pratica-las. Tanto é assim que existe a preocupação por parte dos amantes, principalmente aquele que será o emissor erotizado, de saber se será bem aceito ou não o jogo da sedução através de suas adjetivações sussurradas, sob pena de perder a oportunidade de gozo.

Contudo, muitos de nós possuimos aquele amigo ou aquela amiga que, não lhe importa a oportunidade, lugar ou interlocutor, essa pessoa vai “soltar uma piadinha maliciosa”, uma pergunta indiscreta, ou menos uma tonelada de impropérios de cunho sexual que poderá ser constrangedor.

Enfim, ela vai dar um jeito de falar em sexo, ela vai constranger as pessoas presentes ou a você, trazendo para o cenário (muitas vezes, este cenário é o local de trabalho de vocês) assuntos e pensamentos referentes à sexo, totalmente fora de lugar e de pauta. 

Mais grave ainda é quando os gracejos sexuais de seu amigo/a são dirigidos diretamente à você (principalmente, se você for mulher), de modo intimamente ofensivo e levando a uma sensação de acosso e incômodo.

De tantas vezes que isso já aconteceu, você até consegue deduzir que vai suceder, e se resigna à paciência de esperar que a querida pessoa conclua seu jorro verborrágico sexual ou que, finalmente, perceba que está sendo desagradável e impertinente.

Contudo, há uma grande probabilidade disso não vir a acontecer, se essa pessoa não tiver consciência de que há algo inconsciente que está requerendo sua atenção.

Quem sofre de coprolalia não tem controle sobre a vontade de dizer palavrões e gracejos sexuais

Embora a exacerbada necessidade de falar em sexo constantemente e em público não esteja diretamente elencada entre os transtornos da sexualidade, classificados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), como o exibicionismo, o sadismo ou a escatologia telefônica, dentre outros, podemos dizer que se trata de um transtorno do desejo (desejo sexual hipoativo), se não, pelo menos, de uma inadequação quanto ao desejo, que causa prejuízos psicológicos e sociais, devido à compulsão.

De acordo com 10a edição da Classificação dos Transtornos Mentais (CID10) da OMS, parafilias são comportamentos sexuais atípicos, frequentes, que envolvem objetos, animais, situações ou pessoas, sem consentimento, que podem se transformar em transtorno parafílico quando, para sua satisfação, levam sofrimento, humilhação, danos ou riscos para o praticante ou para a outro, ou seja, o transtorno parafílico se transforma em um transtorno mental.

Obviamente, uma pessoa não pode ser considerada compulsiva sexual(3) tão-somente por gostar de praticar sexo, ter uma vida sexual muito ativa ou por ter desenvoltura em tratar do assunto em público ou com seus pares.

A compulsão aqui abordada e que merece ser tratada se dá quando a pessoa tem uma tendência involuntária de proferir conteúdos de cunho sexual a outrem, demostrando não ter controle sobre seus impulsos imediatistas e inconsequentes.

A compulsão por falar coisas obscenas, vitimando aos outros, é um distúrbio chamado coprolalia. Quem sofre de coprolalia(4) não possuem qualquer controle sobre a vontade de jorrar palavrões ou expressar chistes e galanteios de cunho sexual, normalmente para impactar seu interlocutor/a.

A frequência da ocorrência, principalmente com as mesmas pessoas – colegas de trabalho, por exemplo – pode se constituir em abuso e assédio sexual, uma vez que não é consentido.

Poder-se-ía comparar seu comportamento com o transtorno parafílico Exibicionista, no qual, o que se deseja, para chegar ao prazer, é provocar reação de medo, choque, surpresa, aversão nas “vítimas”, quase sempre mulheres e crianças.

Logo, a pessoa que tem copropraxia não está, de forma alguma, lançando mão do erotismo verbal para apimentar sua relação (sexual) com seu par e pode precisar de ajuda profissional para encontrar, se não a cura, ao menos, o controle, o domínio do que leva à sua prática.

É importante destacar que embora nos casos da verborragia gratuita de palavras obscena quase sempre haverá um fundo sintomático subjetivo, pode ser também uma clara situação de educação ou de um sintoma da Síndrome de Tourette, que afeta 1 em cada 2 mil pessoas no mundo.

Se você ou alguém de sua afetividade deseja falar mais sobre o assunto

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Referências Bibliográficas

(1) Cavalcanti. Mabel. Sexualidade feminina: ontem, hoje e amanhã. Revista Brasileira de Sexualidade Humana DOI: https://doi.org/10.35919/rbsh.v9i1.708. Disponível em: https://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/download/708/622/1143 Acesso em 03/01/2023.

(2) Brown. George R., Considerações Gerais Sobre Parafilias e Transtornos Parafílicos. 06/2022. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/parafilias-e-transtornos-paraf%C3%ADlicos/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-parafilias-e-transtornos-paraf%C3%ADlicos/. Acesso em 03/06/2022.

(3) Compulsão Sexual: significado e características.   Psicanálise Clínica, 11/05/2020. Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com/compulsao-sexual/. Acesso em 01/06/2022.

(4) Coprolalia. Wikipedia. 18/02/2022. Disponível em: Coprolalia.  Acesso em 02/06/2022.


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Sobre o(a) autor(a)

Psicoterapeuta, comunicadora e produtora de conteúdo para redes sociais, autodescoberta em TEA, abraçou a terapia pela palavra para somar psicanálise clínica e comunicação à missão de facilitar processos de autoconhecimento, autodescoberta e autocuidado, que resultam em formas mais saudáveis de tornarem a vida mais plena e significante.

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